O arcebispo de Sarajevo, cardeal Vinko Puljic, comprovou muitas vezes: “Quando as pessoas dispersas pela guerra veem que existe um padre e que uma igreja ressurge dos escombros, então elas voltam.”
Quanto a ele, sempre ficou lá. Inclusive quando havia a guerra. Durante meses ele resistiu, no porão de sua casa episcopal, sem água, comida, aquecimento, com 20 graus abaixo de zero, enquanto “choviam granadas” na casa e na igreja. Desde então ele está surdo de um ouvido. Só uma vez tiveram de fugir para outra casa. Dessa vez seu bispo auxiliar foi ferido. Ele o levou nos ombros até o blindado que estava à espera. Mas permaneceram em Sarajevo. “A guerra foi uma escola da cruz”, diz ele hoje.
Por causa dele muitos católicos ficaram em Bósnia-Herzegóvina. “Temos de reconstruir as igrejas. E o primeiro altar é o coração do padre.” Eles vivem sob condições indescritíveis. Um padre se “aninhou” durante dois anos num galinheiro, até que a igreja estivesse parcialmente reconstruída e a casa paroquial novamente habitável. Ainda hoje se vê no galinheiro uma placa: Pároco Zeljko Vlajic. Ele acaba de fazer 30 anos. Fanáticos anticatólicos tinham destruído a casa e a igreja. Outro padre ficou morando no porão, porque da casa que estava por cima não havia sobrado pedra sobre pedra. Muitos padres celebravam a Missa ao ar livre, e no inverno eles reuniam suas comunidades nas ruínas. Mas eles estavam e estão ali pelo amor e pela reconciliação.
A guerra acabou, mas a discriminação, não. “Não estamos querendo privilégios”, declara o cardeal Puljic diante dos políticos que visitam esse país periférico da Europa, ou com os quais ele se encontra em Bruxelas. Há 13 anos ele espera uma autorização para a construção de uma igreja em Sarajevo. Nesse meio tempo foram edificadas dezenas de novas mesquitas na cidade cosmopolita.
Depois ele faz seus cálculos diante dos políticos: diz que, desde 1991, quase metade dos católicos fugiu ou foi expulsa; que agora ainda vivem cerca de 440 mil católicos na Bósnia-Herzegóvina; que 42% dos remanescentes não encontram emprego e por isso dificilmente conseguem colaborar na reconstrução; que a Igreja se ocupa dos idosos e das pessoas com deficiência, organiza sopas para os pobres, mantém escolas, nas quais 30% dos alunos são muçulmanos; que a Igreja construiu Centros de saúde, porque as pessoas não têm dinheiro para remédios ou tratamentos; e que agora ela oferece espaço para encontros, esporte e anúncio da fé através de um Centro juvenil. “Isso transmite a segurança de que também no futuro os jovens poderão viver a sua identidade católica na Bósnia-Herzegóvina”, diz o Padre Simo Marsic, diretor desse Centro.
Em muitas dessas atividades a Ajuda à Igreja que Sofre dá o seu apoio. Sem essa ajuda a Igreja em Bósnia-Herzegóvina morreria de inanição. “Deus move os nossos corações,” diz o cardeal Puljic cheio de gratidão. E acrescenta, pensativo, aquilo que ele também disse na Plenária do Sínodo dos Bispos em Roma, há quatro meses: “A verdade da vida é que nos sacrificamos por aquilo que amamos. Aquilo pelo qual estamos prontos a dar a vida não morre jamais, porque a força do amor é mais forte do que a morte.
FONTE: http://www.ais.org.br/projetos/item/479-uma-escola-da-cruz
Nenhum comentário:
Postar um comentário