“Seduziste-me,
Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jer 20,7)
Vocação,
do latim vocare, tem por significado
o ato de chamar. É um chamado para aquilo que temos de aptidão, talento, algo
único e especial, com a finalidade de realização plena da pessoa. É uma graça,
cuja iniciativa parte do amor de Deus. Entretanto, é preciso ressaltar que
vocação não se limita apenas à vertente religiosa, mas compreende todas as
pessoas, uma vez que fazem parte do projeto da salvação de Deus. Todos os seres
humanos são vocacionados, convidados a testemunharem o amor de Deus no mundo.
Quanto
a mim, desde os cinco anos de idade sinto uma grande alegria em participar das
Missas. Segundo conta minha mãe, pedi a ela numa sexta-feira santa para que me
levasse à igreja a fim de “ver Jesus morto”. Não gostava de ficar no salão
paroquial junto com as demais crianças enquanto seus pais participavam da
Missa, mas fazia questão de pegar um folheto e sentar ao lado da minha mãe para
rezarmos. Ficava atento em cada detalhe que ocorria no presbitério. Meu pai –
falecido em 2007 – era publicitário e trabalhava fora, não podendo participar
conosco. Aos sete anos de idade, com os lençóis da minha mãe, uma taça de suco
de uva, um pedaço de pão (amassado e cortado em círculo para que pudesse ficar
semelhante à hóstia), “brincava toda semana de celebrar Missas”. Confesso que
me divertia!
Por
conseguinte, não surpreendi os meus pais quando disse que queria ser padre, até
parecia que eles já esperavam por isso. Meu pai nunca foi categórico em
contrariar minha decisão, mas comentava que seu sonho era que eu fizesse
direito ou jornalismo. Ao contrário dele, minha mãe sempre gostou da ideia.
Aos
dezoito anos, ingressei-me na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, mas
permaneci por pouco tempo, aproximadamente sete meses. Por questões de ordem
particular, pedi dispensa. Foi uma decisão muito difícil, tomada após um tempo
de muita reflexão e diálogo com os formadores. Ainda hoje, sinto saudades da
minha turma e dos frades, pessoas mais que extraordinárias, que fizeram parte
da minha vida e que carregarei em meu coração por toda a vida. Retornando a
minha casa, a sensação de tristeza pela desistência da vida religiosa logo foi
superada quando retornei poucos dias depois ao meu antigo trabalho.
Em
2011, aos dezenove anos, fui convidado a participar da Convivência Vocacional
Premonstratense, em Jaú. Francamente, fiquei encantado com a Ordem, emoção esta
que persiste até hoje. Desse modo, pedi a aprovação para ingressar-me, o que
ocorreu com a benção de Deus. Deixei minha mãe mais uma vez, meus familiares,
amigos, meu emprego que muito gostava, onde exercia o cargo de supervisor
administrativo, enfim, uma série de renúncias com o intuito de seguir a Jesus
Cristo por meio da vida religiosa.
Em
suma, tratando-se de vocação, seja ela religiosa, familiar, profissional, é
preciso considerar que é algo intrínseco, subjetivo, peculiar a pessoa. O
processo de descoberta passa por uma série de experiências e de perscruta aos
sentimentos, mas seja ela qual for, o mais importante é ser feliz e sentir-se
bem com Deus, consigo mesmo e com o próximo.
Marcelo
Selingardi Correa
Postulante O. Premonstratense
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